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O DIA EM PORTUGAL SE VESTIU DE BRANCO


Só para terminar o dia uma carta aos jovens Portugueses que intitulo como "O dia em que Portugal se vestiu de Branco"

Sabes jovem amigo e adolescente aí em Portugal, que lutas por um planeta melhor, em que empunhas slogans de “Black Lives Matter”, “Save the Planet” e dizes que Portugal é um país racista. Acorda e não te deixes embalar por extremismos oportunistas tanto de Esquerda como de Direita e pensa por ti mesmo para não caíres no ridículo e seres um ignorante para andares com cartazes “Um Policia bom é um Policia Morto”. Sabes jovem amigo e adolescente que gritas que os Lusitanos são racistas, então tenho uma pequena História para ti. Talvez não tivesses nascido, ou talvez fosses demasiado jovem para o entenderes. Há muitos, muitos anos atrás depois da queda do regime ditatorial Polaco os Diabos vermelhos retiram a sua faixa branca e vermelha onde se podia ler escrito Solidarność e dão lugar á longa faixa dos NN em que dizia ”Timor também é Portugal”. Sabes jovem amigo e adolescente que gritas que os Tugas são racistas, esta História que passo a escrever aconteceu a 8 de Setembro de 1999. A História em que Portugal se vestiu de branco.

Há um país do outro lado do planeta, conhecido como o país mais novo do mundo, que vivia tempos de agonia de uma excolinização, feita á pressa e sem pensar nas consequências, de parte dos Portugueses e da parte da então FRETILIN. A 28 de Novembro de 1975 Timor proclamou-se unilateral independente de Portugal, mas a 5 de Dezembro do mesmo ano, quando Timor ainda se encontrava na ressaca de ser um país “Livre” o terror voltou, e sem falinhas mansas. A ocupação Indonésia fazia as águas dos rios ficarem turvas de sangue, um sangue que só Moisés e os Egípcios experimentaram. A língua Portuguesa era banida e quem falasse o Português era imediatamente executado, assim puro e cru, sem rodeios. Portugal desde então nunca deixou um único dia sem uma notícia televisiva ou escrita sobre Timor. Em casa era o silêncio ensurdecedor e as imagens acompanhadas com atenção para ver se víamos alguma cara familiar já que as cartas que chegavam a casa através da Cruz Vermelhas eram recebidas como ouro, demoravam meses a chegar e as que chegavam ao destino mas vinham censuradas. Sim censuradas, até mesmo a carta que anunciou a morte da minha avó, só pudemos ler que tinha morrido. Todos os dias Portugal na ONU não deixava o caso de Timor em mãos vazias os aliados que tínhamos viraram-nos costas, ficámos sozinhos á deriva no mar á espera do vento para empurrar a nossa Nau a nossa Caravela o nosso barco a remos. No dia 12 de Novembro de 1991 veio uma notícia chocante, imagens gravadas pela RTP em Timor. Foram enviadas centenas de cassetes em sistema Betamax e VHS para familiares fora de Timor, caso a equipa da RTP não conseguisse enviar as imagens para Portugal alguém que as fizesse chegar aos estúdios, a minha família foi uma das agraciadas, as imagens do horror do massacre no Cemitério de Santa Cruz. E este que foi o vento que tanto Portugal esperava para empurrar o nosso barco a remos a nossa Caravela e depois a nossa Nau. Fez tanto furor que os Portugueses por vez primeira tinham conhecimento ao vivo do que se passa naquela ilha do outro lado do planeta e a 8 de Setembro de 1999 aconteceu o inacreditável, o assombroso, o magnífico movimento que só nós Portugueses sabemos dar e fazer. Nesse dia lembrei-me que não podia esquecer de sair com uma peça de roupa branca, como não tinha calças brancas pus uma t-shirt branca dirigi-me a Lisboa e ao chegar á estação de S. Pedro do Estoril, olhei para a capa dos jornais como de costume. As primeiras páginas dos jornais eram brancas! Incrível! De todos os jornais! As funcionárias estavam vestidas de branco. Ao apanhar o comboio, lotado, a cor branca era predominante. Pela janela conseguia ver lençóis brancos pendurados janelas das casas ao longo da linha de Cascais, os carros na marginal deixam esvoaçar o lenço branco preso á janela. Ao chegar ao Cais-do-Sodré, esperei pelos meus colegas, que me vinha buscar para filmarmos umas imagens para a série infantil “Repórter de Palmo e Meio”. Á minha volta era um mar de gente vestidas de branco as vendedoras ambulantes também e os seus carrinhos envoltos em lençóis brancos. Parámos na Praça do Comercio para fazer os três minutos de silêncio. Era incrível a massa humana vestida de branco abafando as outras cores usadas pelos turistas alheios ao que iria passar. Eram quase 15:00 as pessoas levantam-se das mesas os carros paravam, as lojas fechavam as portas, e pediam para os turistas esperarem um pouco. Os elétricos e os cacilheiros das 15:00 e antes das quinze anunciavam o atraso da partida. Às 14:55 não havia um barco a cruzar o Tejo os transeuntes vestidos de branco paravam. Um táxi á nossa frente chamou a atenção do nosso cameraman estava o taxista a cobrir o veículo com um lençol branco. Um carro da PSP para mesmo á nossa frente e saem dois agentes, ajudam o taxista a compor o lençol. São 15:00 os agentes da PSP batem continência e o silêncio toma conta das pessoas. Pessoas que olhavam em volta e emocionavam-se, os turistas tiravam fotografias mas não falavam, também não entendiam o que se passava, e pararam sem saber o porquê, foram os três minutos de silêncio que pude experimentar, mais longos, mais emocionantes da minha e da vida de milhões e milhões de Portugueses. Fez-se uma corrente humana que ligava a Sede da ONU em Lisboa á embaixada dos USA, são uns bons Km, corria a notícia que o tabuleiro da Ponte 25 de Abril tinha parado por completo. O papel dos meios de comunicação de massa na mobilização popular atingiu uma proporção nunca imaginada. Aqui há que considerar duas vertentes: a da capacidade de mobilização propriamente dita e a concentração da informação no caso timorense, dividindo-se esta última em duas questões fulcrais: a da criação de acontecimento e a da auto-estima lusocêntrica (comum a praticamente toda a movimentação). A grande mobilização não resultou tanto da actividade das televisões, como se esperaria num contexto contemporâneo, mas sim das rádios. A estação privada TSF transformou-se num autêntico diretório político. As suas emissões passaram a ser dedicadas exclusivamente à situação em Timor e à mobilização nacional, cancelando até mesmo os anúncios publicitários. Instituiu uma fórmula encantatória que perdurou até 10 de outubro: antes dos noticiários, de meia em meia hora, podia-se ouvir a frase "são dez horas no continente, menos uma nos Açores e cinco da tarde em Díli".

O branco naquele dia vestiu Portugal e a ALMA Lusitana, ganhou um significado muito importante na vida de milhões de Portugueses que conseguiram levar a voz de Portugal e de Timor a dar a volta ao mundo. Sem conhecermos quem lá vivia sem pedir nada em troca foi o dia que Portugal se vestiu de branco. Agora extremistas esquerdistas chamem-nos racistas quando demos a 8 de Setembro de 1999 uma lição ao mundo do que é ser Português do que é ser Tuga do que é ser Lusitano, do que é não ser racista.

MJBG 2020-07-29

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